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Palavras ditas por Buda (Gautama), há mais de 2500 anos... E ainda hoje são atitudes que precisamos tanto ouvir!! Não acredite em tudo sem analisar!!

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sábado, 7 de janeiro de 2012

Ciúme

“Mas eu me mordo de ciúme...” (Ultraje a Rigor)


Segundo os psicólogos israelenses Ayala Pines e Elliot Aronson, autores de uma ótima pesquisa sobre este tema, o ciúme pode ser definido como um “complexo de pensamentos, sentimentos e ações que são provocados por ameaças à existência ou à qualidade do relacionamento que são gerados pela percepção da atração, real ou potencial, entre o parceiro e um rival (imaginário ou real)”.
Você sente ciúme? Parabéns, este sentimento é normal e razoável. O ciúme é como o medo. Só os seus excessos é que são disfuncionais: falta de ciúme ou excesso de ciúme, tal como a falta de medo ou o medo de tudo, é que são prejudiciais. O ciúme é experimentado por quase todas as pessoas, em quase todas as culturas e em todas as épocas. Várias pesquisas constataram que quase todo mundo já sentiu ciúmes alguma vez na vida. Cerca de 50% das pessoas declararam que são ciumentas.
Antigamente era moda condenar certos fenômenos psicológicos como o medo, a timidez e o ciúme. Os especialistas daquela época acreditavam que estes fenômenos só eram apresentados por pessoas imaturas, egoístas e problemáticas. As teorias psicológicas modernas reabilitaram estes fenômenos. Esta reabilitação aconteceu porque foi compreendido o papel importante que eles têm para a sobrevivência da nossa espécie, para o nosso bem-estar e para o funcionamento dos relacionamentos humanos. Por exemplo, segundo a teoria evolucionista, o ciúme, quando é manifestado em doses moderadas e nas circunstâncias adequadas, ajuda a evitar que o parceiro se envolva amorosamente com outros pretendentes e desfaça o vínculo conjugal atual. Na nossa espécie, a manutenção do vínculo conjugal, pelo tempo necessário para que os seus filhos ganhem autonomia, é importante porque as crianças necessitam de cuidados durante muitos anos para que possam sobreviver sozinhas. Tais cuidados são muito mais eficazes quando são proporcionados por um casal do que quando são proporcionados por apenas um dos cônjuges.
Causas reais e causas fantasiosas do ciúme
Ciúme realista 
Muitas pessoas que procuram o meu consultório porque estão sentindo uma intensidade insuportável de ciúme dos seus parceiros têm razões para isto: elas realmente estão sendo traídas. Neste caso o ciúme é uma reação razoável e saudável ao que está se passando. O que resta fazer é comprovar a traição e tomar as medidas adequadas para lidar com os danos psicológicos que ela acarreta e com o parceiro traidor.
Ciúme fantasioso
Uma parte daquelas pessoas que procuram o meu consultório devido aos problemas gerados pelo ciúme não tem motivos reais para esta reação: elas estão tendo ciúmes descabidos. Este tipo de ciúme é característico daquelas pessoas que são chamadas de “ciumentas”. Quando o ciúme é muito irrealista e muito exagerado pode se tratar de uma patologia – o ciúme patológico.
O ciúme patológico é provocado por delírios de traição por parte do parceiro. Nenhum tipo de prova em contrário convence o enciumado de que o parceiro não o está traindo. Cada suspeita que é desconfirmada só o tranqüiliza por pouco tempo. Logo em seguida aparece outra suspeita e novos ciúmes. As vidas de quem tem este tipo de ciúme e a do seu parceiro se transformam em um inferno. A insegurança de que o parceiro está traindo é constante. Todas as atividades da vida diária podem ser prejudicadas pelas perturbações decorrentes do ciúme. O enciumado não consegue se concentrar em mais nada. Tudo fica subordinado aos seus sentimentos de ciúme. O sono fica prejudicado, o parceiro é submetido à vigilância continua – ¬¬a sua privacidade é invadida de todas a formas –, outras atividades importantes podem ser interrompidas para que a vigilância do parceiro possa ser exercida. Este tipo de distúrbio requer tratamento especializado.
Ingredientes do ciúme
O ciúme tem dois ingredientes: o disposicional e o situacional. O ingrediente disposicional é aquele que faz com que duas pessoas tenham diferentes intensidades de ciúme em uma mesma situação. Por exemplo, quando dois homens descobrem que suas namoradas estão trocando e-mails com seus respectivos ex-namorados, cada uma deles pode sentir intensidades muito diferentes de ciúme: um pode ficar possesso e querer acabar o namoro, enquanto o outro pode ficar apenas ligeiramente enciumado. Ou seja, um deles é “muito ciumento”, enquanto o outro é “pouco ciumento”. 
O ciúme exagerado pode ser causado por pelo menos um dos seguintes motivos: 
(1) Possuir um amor do estilo Mania (são pessoas possessivas e inseguras) ou ter um estilo de apego ansioso-ambivalente (típico daqueles que receberam cuidados na infância por parte de pessoas que eram inconstantes para proporcionar segurança e afeto e se portavam de uma forma invasiva). 
(2) Ter sido traído em relacionamentos anteriores: “Gato escaldado tem medo de água fria”.
(3) Ter sido afetado por traições por parte de terceiros. Por exemplo, uma paciente que atendi desenvolveu uma desconfiança muito grande em relação aos homens porque durante a sua infância e adolescência ela presenciou várias brigas entre o seu pai e a sua mãe. Nestas brigas, a mãe acusava o pai de traição. Além disso, a mãe sempre a advertia de que “não podia confiar nos homens”.
O ciúme situacional é aquele que faz com que uma mesma pessoa experimente diferentes intensidades de ciúme em diferentes situações. Por exemplo, Maria relatou que sentiu uma intensidade dez de ciúme, em uma escala que vai de zero a cem, quando atendeu ao telefone e ele foi imediatamente desligado por quem fez a chamada. Ela também relatou que sentiu uma intensidade oitenta de ciúme, nesta mesma escala, quando soube que o namorado tinha “ficado” com uma conhecida de ambos em um feriado que ela viajou sozinha para visitar os pais em outra cidade. 
O ciúme é normal e saudável quando a sua intensidade é proporcional ao risco que a situação traz para o seu relacionamento. Por exemplo, se o parceiro conversa rapidamente com uma desconhecida muito bonita em uma festa isto oferece um risco muito menor para o seu relacionamento do que se o parceiro tivesse dançado repetidamente e de rosto colado com esta bela desconhecida. Um estudo que fiz mostrou que as pessoas ordenam de forma muito semelhante as intensidades do ciúme que são provocados por diferentes situações. Por exemplo, quase todo mundo diz que sente menos ciúme quando o parceiro menciona repetidamente o nome de uma possível rival do que quando ele viaja com ela para um congresso. 
Outros fatores também afetam a intensidade do ciúme. Por exemplo, o ciúme geralmente é menor quando o relacionamento é mais estável (já existe há bastante tempo e há um bom grau de compromisso entre os parceiros) e quando o parceiro é confiável.
As reações ao ciúme
A grande maioria das pessoas não gosta de sentir ciúme. As reações daqueles que são objeto de ciúme moderado vão desde sentir-se amado e ficar lisonjeado até não suportar ser objeto deste sentimento. As pessoas que não gostam de ser objeto de ciúme sentem-se acuadas, tolhidas e desrespeitadas quando isto acontece. 
A forma de agir daqueles que sentem ciúme também varia muito. Por exemplo, algumas pessoas escondem este sentimento, enquanto outras se tornam agressivas e apresentam represálias. Alguns estudos indicaram que as mulheres têm mais propensão do que os homens para desenvolver sentimentos negativos contra elas próprias quando sentem ciúme. Por exemplo, ficam com a auto-estima rebaixada e podem ficar deprimidas. Os homens, por outro lado, tendem a agir contra os outros quanto sentem ciúme: ficam agressivos com a parceira e com os rivais.
É possível matar por ciúmes?
Não creio que alguém mate, suicide-se ou até mesmo cometa atos violentos só porque é muito ciumento. Quem comete excessos quando fica muito enciumado é porque, além de ser ciumento, também tem algum tipo de desequilíbrio psicológico ou social. Por exemplo, tal pessoa pode não ter aprendido a controlar os seus impulsos destrutivos. Ela provavelmente considera legítimos estes tipos de reações. Por exemplo, ela pode ter sido educada para acreditar que é louvável “lavar a honra com sangue”.
Perdoar é mais fácil do que recuperar a confiança
Quem foi traído pode desenvolver uma desconfiança crônica em relação ao parceiro que o traiu. Esta desconfiança pode ser muito difícil de ser tratada. Por exemplo, certa vez atendi uma paciente que constatou uma traição por parte do marido. Depois desta constatação, tudo o que ele fazia ou deixava de fazer era visto por ela como evidência de uma nova traição em curso. Por exemplo, se ele dava presentes para ela era porque ele estava com a consciência pesada por estar traindo. Se ele não dava presentes era porque estava apaixonado por outra e pensando em sair do casamento. Este tipo de desconfiança durou muito tempo apesar do tratamento psicológico.

Se o seu ciúme está prejudicando o seu relacionamento, verifique se ele é legítimo. Caso não o seja e você não esteja conseguindo se controlar sozinho procure ajuda profissional.
escrito por ailton amélio da silva

SÃO PAULO, SP
Psicólogo clínico (telefone: (11) 3021 5833). Doutor em psicologia. Professor do Instituto de Psicologia da USP. Escritor.


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