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Terapeutas tocam também suas dores no sacerdócio do cuidar do outro
‘‘Grande parte de vosso sofrimento é por vós próprios escolhido. É a amarga poção com a qual o médico que vive dentro de vós cura o vosso Eu doente. Confiai, portanto, no médico e bebei seu remédio em silêncio e tranqüilidade: pois sua mão, embora pesada e dura, é guiada pela suave mão do Invisível.’’
As palavras do ilustre pensador Kahlil Gibran serviram como referência para a estudiosa de mitologia e astrologiaMelanie Reinhart, escrever sobre um assunto contundente. Em ‘‘Quíron e a Jornada em Busca da Cura’’ (Coleção Arco do Tempo da Editora Rocco), Reinhart registra com profundidade os perigos do lado fugitivo do ser humano, quando luta por abstrair-se de suas próprias dores, fazendo um movimento ilusório e irreal que não o leva a lugar algum. Ao contrário, ao negar a dor do fundo de sua alma, o homem cria em sua vida muita confusão, a partir dessa recusa em acolher a chamada ‘‘ferida sagrada’’.
Muitas vezes, é essa dor que o leva a enveredar pela área da saúde, tornando-se médico ou psicoterapeuta, pois ao entrar permanentemente em contato com a dor do outro e tentar aplacá-la, terá automaticamente alívio em sua própria dor, mesmo sem ter consciência clara disso.
A própria palavra ‘‘terapia’’, explica a psicóloga Jane Eyre Melo, em sua etimologia, se originou do grego ‘‘thaerapia’’, que significa ‘‘servir a Deus’’. Desta forma, a prática terapêutica, bastante antiga, já evidenciava a tentativa de conciliação entre o homem e a Natureza. Apesar disso, passou a ser entendida e utilizada pela medicina como forma ou tipo de tratamento e acompanhamento médico.
Ela revela uma questão provocativa, levantada pelo mestre de psicologia alemão, Thorwald Dethlefsen: ‘‘Por que, cada vez mais pessoas no nosso meio cultural precisam urgentemente de uma terapia e como as pessoas que viveram nos últimos milênios conseguiam sobreviver sem sua ajuda?’’
O professor da Universidade de Munique explica que os homens de culturas antigas não precisavam de terapia porque tinham outros métodos que satisfaziam de modo muito mais adequado às necessidades da alma humana. Jane confirma ter havido um retrocesso no desenvolvimento humano, uma piora na própria essência. ‘‘É por isso que o homem moderno é psiquicamente mais doentio do que os homens de épocas anteriores. A psicoterapia transformou-se na resposta para uma perda sofrida por nossa cultura.’’
Dethlefsen acentua que hoje temos orgulho dessas ‘‘perdas’’, as quais fundamentam nossa sensação de ‘‘superioridade’’. Os mitos e seu culto, com os grandes e significativos potenciais energéticos trazidos por eles desde a Antigüidade, foram jogados fora muito apressadamente, na opinião do psicólogo. ‘‘É por isso que o mito e o culto estão tão distanciados da compreensão de nossa época, a tal ponto que esses conceitos despertam falsas associações.’’ Tudo hoje é ‘‘desmitificado’’ e ‘‘desmistificado’’, inclusive as religiões.
De acordo com Jane, era Quíron quem instruía os heróis em suas jornadas, como o fez com Hércules, em seus doze trabalhos. Na astrologia, o planeta Quíron, descoberto em 1977,reaproximou os humanos do arquétipo do ‘‘curador ferido’’, já que traz sua ferida interna original (rejeição materna) e também outra incurável, por ter sido acidentalmente ferido por uma flecha envenenada. Ao buscar a cura para seu ferimento, passou a ajudar muitas pessoas a se curarem.
Cristina Soares lembra que Quíron aparece na mandala astrológica de todas as pessoas. O que muda é apenas a esfera em que apresenta a dor que o moverá na vida, no sentido de buscar sua cura e compartilhar suas descobertas com as demais pessoas.
Jane Melo confirma que todas as pessoas possuem um lado Quíron, seja representando pelo movimento de despertar de seu terapeuta interno, seja no aspecto híbrido do mito. E finaliza lembrando que o despertar do terapeuta interno pode ser estimulado no contato com o médico, o psicólogo, o artista e até mesmo, um mestre, um professor, um filme, uma música.
Matéria publicada no jornal "Diário do Nordeste" em Fortaleza, em 25/07/2004
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