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Palavras ditas por Buda (Gautama), há mais de 2500 anos... E ainda hoje são atitudes que precisamos tanto ouvir!! Não acredite em tudo sem analisar!!

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sábado, 7 de janeiro de 2012

O manual do chato

O manual do chato

Uma conversa agradável é aquela que corre fácil, os assuntos surgem naturalmente, a passagem de um assunto para o outro acontece de uma forma imperceptível, perde-se a noção de tempo. Tudo isso faz com que ela seja percebida como prazerosa e envolvente. Todos estes efeitos são resumidos pela sensação de que há afinidade entre os parceiros, que há motivação para conversar e que o relacionamento entre eles vai de vento em popa.
A conversa tem um papel central em todos os caminhos para iniciar relacionamentos amorosos, tais como na paquera entre desconhecidos ou na transformação de relacionamentos que já existem em relacionamentos amorosos. O início de um relacionamento amoroso entre desconhecidos não consiste apenas em uma paquera à distância, seguida da abordagem por uma das partes. Para que este início seja efetivado, geralmente existe o teste da conversa: os parceiros conversam por um certo tempo para se certifiquem de que são mutuamente compatíveis. Este papel da conversa é bem ilustrado pela anedota abaixo:
Duas amigas estão em uma balada. Uma delas fica entusiasmadíssima com alguém da mesa ao lado. Depois de um tempo, ela e o rapaz começam a flertar. O rapaz a aborda e começam um encontro alucinante. Tudo o mais se torna secundário. A amiga vai embora, porque sentiu que estava sobrando. No dia seguinte, as duas amigas se encontram. A amiga que tinha ido embora antes pergunta: “E ai, está com aquele rapaz? Ontem, você estava tão entusiasmada.”. A outra responde: “Não. Ele me decepcionou”. A amiga, muito espantada, pergunta: “Porque?” A outra responde: “Quando saímos da balada consegui ouvir direito o que ele dizia!”
Vamos examinar agora algumas formas específicas de ser chato através da conversa. O objetivo deste artigo, obviamente, é contribuir para que você tome consciência e evite estes tipos de comportamentos.
Os chatos na conversa seguem duas regras gerais e diversas regras específicas. As regras gerais são: (1) “Não considere o seu interlocutor.” e (2) “Não faça qualquer esforço para que o seu relacionamento com ele seja agradável, edificante, respeitoso, divertido e motivador”. As maneiras específicas serão apresentadas abaixo.

Maneiras específicas de ser chato em uma conversa

Infelizmente existem várias maneiras de ser chato em uma conversa. Vamos examinar aqui apenas algumas das principais.

- Forçar conversas e temas

Nem sempre é possível conversar com uma pessoa ou tratar de um determinado tema com ela. Existem vários tipos de motivos para esta impossibilidade: quando pelo menos uma das partes considera que a outra não é um interlocutor adequado (por exemplo, o interlocutor é alguém desconhecido que faz uma abordagem na rua), quando o momento não é adequado (por exemplo, uma das partes está sem tempo) quando existem dificuldades para localizar assuntos adequados e envolventes naquele momento (“Não ter nada para conversar naquele momento”), etc.

- Quem faz uma ligação telefônica deve se certificar se está interrompendo.

O telefonema em momentos inconvenientes é um caso freqüente de conversas forçadas. Quando ligamos para uma pessoa nunca sabemos o que ela está fazendo. É bom sempre começar uma ligação perguntando: “Estou interrompendo alguma coisa?” ou algo equivalente. Caso o outro dê algum sinal que sim, quem ligou deve se prontificar em dizer: “Te ligo outra hora”, ou algo do gênero. Também ajuda muito quando quem recebe uma ligação inconveniente diz, assim que atender ao telefone: “Olá, fulano. Tudo bem? É urgente? Posso te ligar daqui a pouco?” ou algo do gênero.

- Monopolizar os papéis de falante ou de ouvinte.

Para que haja uma conversa é necessário que haja alternância nos papéis de ouvinte e falante. Caso isto deixe de ocorrer, o acontecimento não é um diálogo. Pode ser um monólogo, uma palestra, uma declaração ou algo do gênero. Esta falha na alternância de papéis tanto pode ocorrer porque um dos interlocutores não quer abrir mão do seu papel de falante ou de ouvinte. O primeiro caso (“pessoas que falam demais”) é mais comentado por aí do que o segundo (pessoas que “ouvem demais” ou “pessoas que falam de menos”).

- Falar demais

O falante compulsivo se dá ao direito de fazer todas as associações e desenvolver todos os assuntos que vão lhe passando pela cabeça. Ele só está interessado em se exibir, desabafar ou produzir determinadas reações no ouvinte. Não está interessado no que se passa com este. Falar demais anula o ouvinte e impõe-lhe um problema: ou suporta aquele falante desagradável ou age de uma forma rude para interrompê-lo. Duas medidas são sugeridas para evitar falar demais: (1) falar no máximo por cinco minutos e passar a palavra e (2) mencionar os temas e só desenvolvê-los à medida em que o interlocutor manifeste interesse.

- Recusar a palavra

Algumas pessoas se recusam sistematicamente a ocupar o papel de falantes. Quando são pressionadas a fazê-lo, falam o mínimo possível e da forma menos comprometedora possível. Isto cria uma conversa assimétrica e, geralmente, pouco interessante. A pessoa que fala pouco contribui menos, deixa de expor a sua posição, dá a impressão de pouco interesse e de falta de confiança em si mesmo e no interlocutor. Esta forma de participação é insatisfatória principalmente para os interlocutores que não são compulsivos para falar.

- Empurrar para o outro toda a tarefa de manter a conversa

Algumas pessoas não se sentem obrigadas a contribuir para o sucesso da conversa. Não se esforçam para agradar e para fazer o interlocutor se sentir bem. Aparentemente adotam a seguinte regra: “O outro que se vire para tornar as coisas interessantes. Vou ficar na minha.”
Existem várias formas de não contribuir para que a conversa fique interessante: não ajudar a procurar assuntos, não conduzir conversas amenas enquanto não aparece um assunto mais interessante, não funcionar como ouvinte ativo, não puxar assuntos, não mostrar envolvimento, não se manifestar (nem mesmo quando estiver achando a conversa interessante), não ajudar a manter e a desenvolver os assuntos propostos pelo interlocutor, entre outras.

- Mostrar desatenção

Esta forma é ainda mais grave de ouvir passivamente. O ouvinte passivo mostra sinais fracos de interesse e envolvimento. O desatento deixa de apresentar os sinais de atenção ou mostra sinais de atenção para outras coisas como, por exemplo, ficar olhando para o que está ocorrendo no ambiente ou apresenta sinais de que quer continuar a se concentrar em outra atividade (continua com um livro aberto na mão, continua com o corpo orientado para a televisão ligada etc.).

- Interromper demais

Certa vez fiz a seguinte experiência com meus alunos: fiz uma pergunta para um deles. Assim que ele começou a responder eu fiz outra pergunta. Assim que ele começou a responder esta segunda pergunta eu apresentei uma terceira, e assim por diante. Geralmente três ou quatro perguntas e interrupções de respostas deste tipo eram suficientes para fazer o aluno ferver de raiva. Ele se mostrava perturbado, frustrado e agressivo comigo. Só se acalmava um pouco quando eu explicava que este procedimento estranho e rude tinha o objetivo de demonstrar os efeitos da interrupção.
A interrupção pode acontecer em diversos contextos: no meio de uma palavra, no meio de uma frase, no meio de uma idéia ou de um tema. Uma quantidade moderada de certos tipos de interrupção pode ser bem-vinda. Por exemplo, as interrupções para fins esclarecimento (de um termo ou idéia), para mostrar o interesse e envolvimento do ouvinte no que está sendo dito, as interjeições ou comentários breves, que não exijam respostas elaboradas, podem indicar envolvimento do ouvinte, o que é motivador para o falante.

- Dar conselhos não solicitados

Muita gente confunde quando o interlocutor quer apenas relatar ou desabafar sobre um acontecimento com um pedido de conselhos. Os homens cometem muito este tipo de erro. As mulheres odeiam, por exemplo, quando começam a contar um fato aborrecido que ocorreu no trabalho e o marido logo se apressa em sugerir medidas que ela deveria tomar. Este tipo de conselho na hora errada encerra a fase de desabafo. Isto acontece principalmente quando o conselheiro espera que o outro passe a considerar aquilo que aconselhou e fica irritado quando o outro mostra resistência e não dá sinais de que vá implementar o sugerido.

- Ladrão de holofotes

Neste caso, o chato segue a seguinte regra: “O que aconteceu comigo é mais importante do que o que aconteceu com você”. “A minha notícia é mais interessante do que a sua”.
Quando este tipo de chato atua, a pessoa que introduziu o tema não consegue obter o impacto que queria. O tema pode continuar em pauta, mas agora quem o expressa é o ladrão. Ele continua a tratar do tema que o outro apresentou, mas da forma que o interessa: como o fato o afetou, como ele o vê, como tratou dele, enfim, como é mais importante a sua relação com o tema e do que daquele que o introduziu. Ele adquire o controle do tempo, da palavra e da forma.
Evitar ser chato já é meio caminho andado para uma boa conversa.

Escrito por ailton amélio da silva

SÃO PAULO, SP
Psicólogo clínico (telefone: (11) 3021 5833). Doutor em psicologia. Professor do Instituto de Psicologia da USP. Escritor.

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