(para todos que estão na Senda,sejam Mestres ou Discípulos)
I
Quatro almas se reencontram
tingidas com suas cores
uma loura, outra branca,
e as irmãs: morena e negra
a primeira em sua carruagem
a segunda lutou por ir
a terceira, em sua passagem
e a última hesitou em vir
Mas, enfim, todas juntas
com os receios do primeiro momento
a dúvida em dizer
e o desejo de saber
o que as outras seriam,
seguiram
Os mestres as conduziam,
sob a égide do Cristo.
Uns, físicos:
a caucasiana de estrelas nos olhos
a sertaneja, quase tribal
e o outro, abundante como um Buda
Outros, espirituais
O Discípulo se despediu do seu cajado
estaria desarmado na travessia
Fechava-se um setênio
o sétimo começaria
No percurso, as revelações
enganos e confirmações hereditárias
afinidades e afiliações:
da infância, recordações
de um homem bruto
e aves assustadoras
que tiravam o sono do menino
(os monstros eram galinhas
com suas pernas finas
olhos perscrutadores
e corpo desenhado
por um anjo aprendiz)
À velocidade do vento
cruzavam o firmamento.
Aos pés do Pai Inácio
a primeira transição
muda o condutor
que as levaria até o Vale
Na chegada, a primeira lição
de desapego e conciliação:
as almas irmãs separadas
os corpos não se entranhariam
por alguns dias
Então, onde dormir?
As Feiticeiras irmãs ficaram juntas
qual Parcas
Acaso do Destino
conjunção dos astros
ou seleção natural?
Os deuses conspiraram
e quem foi seu instrumento
depois lamentou.
O Discípulo se acomodou
na solidão compartilhada.
No primeiro dia, a Caminhada.
A Trilha é metáfora da Vida
o importante da trilha é trilhar
o importante da vida é vivê-la
sem partida ou chegada
todos juntos, mas cada um em seu caminho
tropeçando em suas pedras
vendo paisagens diferentes
atrasando seu ritmo
para ajudar aqueles que precisam
superar obstáculos
Sob o sol ou sob a chuva
na frente, o Guia
atrás, o Discípulo, Guardião
todos lançando sementes
para fazer brotar a vida
como aquela flor que irrompe
do asfalto
Na chegada o Discípulo se atira
às águas da cachoeira
e contrito, agradece, testa à pedra
a maravilha da vida
Os Peregrinos se reúnem
e à volta dos Mestres
pedem licença aos Zeladores
para trabalhar
terra, fogo, água e ar
Elfos, salamandras, ondinas e fadas
transitam pelos espaços
e aceitam as oferendas
As nuvens se abrem, o Sol brilha
e se retira
O Discípulo se prostra sobre o lajedo
que drena os fluidos pesados,
miasmas, larvas, vermes, parasitas
astrais sugados pelos minerais
Preenchem seus espaços novas energias
salutares
O retorno é lição ao Mestre:
se estamos juntos
sejamos um só corpo.
Ele treme, fraqueja
quase desfalece
mas conta com a força dos seus.
Os de Cima explicam ao Discípulo:
não há risco, ele levantará
para continuar sua jornada
Amparado pelos da Tribo
protegido pelas vibrações
todos chegam incólumes
ao ponto de partida
O que se aprende na trilha?
O que se aprende na vida?
A chuva não quer
que caminhemos mais nas trilhas
mas que trilhemos outros caminhos
rumo ao encontro íntimo
e assim
os Peregrinos vão
em busca de si mesmos
e do tempo perdido
tocam e trocam suas dores
compartilham a compaixão
outra lição a ser aprendida
Ao Discípulo é ordenado que fale
dos perigos das drogas à Irmã
e da necessidade do Ver, Viver e Sentir
a quem começa a conhecer a Luz
que surge da escuridão
Todos existimos!
Por que não poderia haver
fumaça de cigarro e uma taça de vinho
para celebrar o reencontro
e a felicidade dos Irmãos?
II
O Grande Ritual fecha um ciclo
inicia outro
Ao redor da fogueira
todos queimam o que não precisam mais
Dele, a Espada, e tudo que representa:
força, poder fálico, conquista,
domínio, ira e vingança
Mas saiba que a Sombra, vem da Luz:
não se queima
é preciso saber mantê-la
ao rés do chão
O Poder é o oposto do Amor
O Poder do Amor é arma dos deuses
A Grande Feiticeira, cheia de benevolência,
aguarda os neófitos
“Para todos os meus relacionamentos”
é a senha sagrada
para adentrar o ventre da Terra:
trazemos conosco todas as nossas esperanças
Na taba indígena dezoito corpos se espremem
as pedras da fogueira são lançadas ao meio
para desvendar a nossa sorte
e até o capim é santo
Trevas, calor, vapor, dúvida, medo
escuridão, cantos, palavras mágicas
pelos pontos cardeais
Oeste, Norte, Leste e Sul
O Discípulo suporta
graças às instruções da Grande Feiticeira
e das lições de Kriya Yoga
Um tempo infinito em alguns minutos
de mortificação do corpo
para renová-lo
Lavados de suor
gotejando no chão de barro
a densidade,
o ar quase irrespirável
O término se aproxima.
Dizem, de outra dimensão:
“Descruze as mãos
volte as suas palmas para cima”
e nelas se dá o turbilhão
subchakras em plena ativação
Das trevas surge a luz clara
e uma face sob o turbante
Ele coloca um selo em suas mãos
doa-lhe um mudrá
e o acolhe em sua tribo:
“Você agora é um dos nossos”
OM MANI PADME HUM
À volta muitas tribos
muitos seres
de todas as dimensões
cumpriam as suas obrigações
Todos saem do ventre da Terra
renascidos
deitam-se por instantes no chão
mãos e coração
para agradecer
e depois lavam os corpos
nas águas geladas de Caeté-Açu
O Discípulo adentra o Quarto Vale
das Tribulações
após tatear no escuro
abandonar o ceticismo
e exercitar a entrega, a rendição
rompe a Matrix
Depois, só resta a gratidão
expressando o símbolo
de Shiva, de Ganesha, de Hermes
e dos Guardiões
que se expressa em toda Trindade
Pai, Filho e Espírito Santo
Brahma, Shiva e Vishnu
Corpo, Perispírito e Espírito
Soma, Psicosoma e Consciência
Deus, Inteligência e Energia
Neo, Trinity e Morpheus
Brincar, chorar de rir
e se jogar ao chão
Dançar para louvar
por todos, for all
os seres existentes
a Vida, a Trilha, o Aprendizado
tomai e comei, o pão na pedra
tomai e bebei, o vinho na taça
o corpo e o sangue, nossos veículos
que merecem a sua recompensa
por nos carregar
Todos se abraçam
todos agradecem
por ensinar e aprender
É hora de partir
deixar o Vale
que nunca nos deixa.
As Quatro Almas novamente juntas
fazem o caminho de volta
renovadas, re-unidas
na Jornada
Os desafios as esperam
e tudo tentará
turvar a Paz
mas já nada será igual:
está em seus corações
a bênção de ter vivido
uma Lenda do Capão...
7/5/2008 Goulart Gomes - Publicado no Recanto das Letras em 09/05/2008
tingidas com suas cores
uma loura, outra branca,
e as irmãs: morena e negra
a primeira em sua carruagem
a segunda lutou por ir
a terceira, em sua passagem
e a última hesitou em vir
Mas, enfim, todas juntas
com os receios do primeiro momento
a dúvida em dizer
e o desejo de saber
o que as outras seriam,
seguiram
Os mestres as conduziam,
sob a égide do Cristo.
Uns, físicos:
a caucasiana de estrelas nos olhos
a sertaneja, quase tribal
e o outro, abundante como um Buda
Outros, espirituais
O Discípulo se despediu do seu cajado
estaria desarmado na travessia
Fechava-se um setênio
o sétimo começaria
No percurso, as revelações
enganos e confirmações hereditárias
afinidades e afiliações:
da infância, recordações
de um homem bruto
e aves assustadoras
que tiravam o sono do menino
(os monstros eram galinhas
com suas pernas finas
olhos perscrutadores
e corpo desenhado
por um anjo aprendiz)
À velocidade do vento
cruzavam o firmamento.
Aos pés do Pai Inácio
a primeira transição
muda o condutor
que as levaria até o Vale
Na chegada, a primeira lição
de desapego e conciliação:
as almas irmãs separadas
os corpos não se entranhariam
por alguns dias
Então, onde dormir?
As Feiticeiras irmãs ficaram juntas
qual Parcas
Acaso do Destino
conjunção dos astros
ou seleção natural?
Os deuses conspiraram
e quem foi seu instrumento
depois lamentou.
O Discípulo se acomodou
na solidão compartilhada.
No primeiro dia, a Caminhada.
A Trilha é metáfora da Vida
o importante da trilha é trilhar
o importante da vida é vivê-la
sem partida ou chegada
todos juntos, mas cada um em seu caminho
tropeçando em suas pedras
vendo paisagens diferentes
atrasando seu ritmo
para ajudar aqueles que precisam
superar obstáculos
Sob o sol ou sob a chuva
na frente, o Guia
atrás, o Discípulo, Guardião
todos lançando sementes
para fazer brotar a vida
como aquela flor que irrompe
do asfalto
Na chegada o Discípulo se atira
às águas da cachoeira
e contrito, agradece, testa à pedra
a maravilha da vida
Os Peregrinos se reúnem
e à volta dos Mestres
pedem licença aos Zeladores
para trabalhar
terra, fogo, água e ar
Elfos, salamandras, ondinas e fadas
transitam pelos espaços
e aceitam as oferendas
As nuvens se abrem, o Sol brilha
e se retira
O Discípulo se prostra sobre o lajedo
que drena os fluidos pesados,
miasmas, larvas, vermes, parasitas
astrais sugados pelos minerais
Preenchem seus espaços novas energias
salutares
O retorno é lição ao Mestre:
se estamos juntos
sejamos um só corpo.
Ele treme, fraqueja
quase desfalece
mas conta com a força dos seus.
Os de Cima explicam ao Discípulo:
não há risco, ele levantará
para continuar sua jornada
Amparado pelos da Tribo
protegido pelas vibrações
todos chegam incólumes
ao ponto de partida
O que se aprende na trilha?
O que se aprende na vida?
A chuva não quer
que caminhemos mais nas trilhas
mas que trilhemos outros caminhos
rumo ao encontro íntimo
e assim
os Peregrinos vão
em busca de si mesmos
e do tempo perdido
tocam e trocam suas dores
compartilham a compaixão
outra lição a ser aprendida
Ao Discípulo é ordenado que fale
dos perigos das drogas à Irmã
e da necessidade do Ver, Viver e Sentir
a quem começa a conhecer a Luz
que surge da escuridão
Todos existimos!
Por que não poderia haver
fumaça de cigarro e uma taça de vinho
para celebrar o reencontro
e a felicidade dos Irmãos?
II
O Grande Ritual fecha um ciclo
inicia outro
Ao redor da fogueira
todos queimam o que não precisam mais
Dele, a Espada, e tudo que representa:
força, poder fálico, conquista,
domínio, ira e vingança
Mas saiba que a Sombra, vem da Luz:
não se queima
é preciso saber mantê-la
ao rés do chão
O Poder é o oposto do Amor
O Poder do Amor é arma dos deuses
A Grande Feiticeira, cheia de benevolência,
aguarda os neófitos
“Para todos os meus relacionamentos”
é a senha sagrada
para adentrar o ventre da Terra:
trazemos conosco todas as nossas esperanças
Na taba indígena dezoito corpos se espremem
as pedras da fogueira são lançadas ao meio
para desvendar a nossa sorte
e até o capim é santo
Trevas, calor, vapor, dúvida, medo
escuridão, cantos, palavras mágicas
pelos pontos cardeais
Oeste, Norte, Leste e Sul
O Discípulo suporta
graças às instruções da Grande Feiticeira
e das lições de Kriya Yoga
Um tempo infinito em alguns minutos
de mortificação do corpo
para renová-lo
Lavados de suor
gotejando no chão de barro
a densidade,
o ar quase irrespirável
O término se aproxima.
Dizem, de outra dimensão:
“Descruze as mãos
volte as suas palmas para cima”
e nelas se dá o turbilhão
subchakras em plena ativação
Das trevas surge a luz clara
e uma face sob o turbante
Ele coloca um selo em suas mãos
doa-lhe um mudrá
e o acolhe em sua tribo:
“Você agora é um dos nossos”
OM MANI PADME HUM
À volta muitas tribos
muitos seres
de todas as dimensões
cumpriam as suas obrigações
Todos saem do ventre da Terra
renascidos
deitam-se por instantes no chão
mãos e coração
para agradecer
e depois lavam os corpos
nas águas geladas de Caeté-Açu
O Discípulo adentra o Quarto Vale
das Tribulações
após tatear no escuro
abandonar o ceticismo
e exercitar a entrega, a rendição
rompe a Matrix
Depois, só resta a gratidão
expressando o símbolo
de Shiva, de Ganesha, de Hermes
e dos Guardiões
que se expressa em toda Trindade
Pai, Filho e Espírito Santo
Brahma, Shiva e Vishnu
Corpo, Perispírito e Espírito
Soma, Psicosoma e Consciência
Deus, Inteligência e Energia
Neo, Trinity e Morpheus
Brincar, chorar de rir
e se jogar ao chão
Dançar para louvar
por todos, for all
os seres existentes
a Vida, a Trilha, o Aprendizado
tomai e comei, o pão na pedra
tomai e bebei, o vinho na taça
o corpo e o sangue, nossos veículos
que merecem a sua recompensa
por nos carregar
Todos se abraçam
todos agradecem
por ensinar e aprender
É hora de partir
deixar o Vale
que nunca nos deixa.
As Quatro Almas novamente juntas
fazem o caminho de volta
renovadas, re-unidas
na Jornada
Os desafios as esperam
e tudo tentará
turvar a Paz
mas já nada será igual:
está em seus corações
a bênção de ter vivido
uma Lenda do Capão...
7/5/2008 Goulart Gomes - Publicado no Recanto das Letras em 09/05/2008
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